Violação do direito de privacidade.
A 30ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo condenou um shopping da capital paulista a indenizar por danos morais mulher que foi irregularmente coagida a entregar celular para verificação de segurança do estabelecimento. A indenização foi fixada em R$ 15 mil.
Segundo os autos, a autora, que trabalhava em um quiosque do shopping, foi acusada por uma cliente de fotografar seus dados bancários em um caixa eletrônico, sendo abordada pelo segurança de forma inapropriada e obrigada a entregar seu aparelho celular. Em juízo, a requerente comprovou que havia fotografado outro caixa, que apresentava defeito.
A requerida, por sua vez, além de não comprovar sua versão dos fatos, se limitou a questionar a força probatória dos documentos apresentados pela autora, o que, no entendimento da relatora do recurso, desembargadora Maria Lúcia Pizzotti, é função que cabe ao magistrado do caso. “Entendo que há provas suficientes a respeito da violência sofrida pela autora por parte do preposto do shopping, inexistindo, da parte deste, contraprovas capazes de ilidir a valoração das provas que aqui se faz”, pontuou a relatora.
No que diz respeito aos danos morais pleiteados, a magistrada destacou que a requerente, além do constrangimento, foi submetida a uma violação de direitos fundamentais, uma vez que a privacidade de seu telefone particular só poderia ter sido quebrada por entrega voluntária do aparelho ou por decisão judicial, o que não ocorreu. “A autora foi vítima de violência intimidatória. Exposta em público pelo preposto do réu e uma açodada denunciante. Ambos, sem qualquer respaldo legal para agir dessa forma. Ainda que, de fato, a autora tivesse tirado fotografia dos dados bancários da terceira, jamais os dois teriam o direito de coagi-la a entregar o celular”, acrescentou a magistrada. “O réu, consequentemente, responde objetivamente pelos danos causados por seu preposto”, concluiu.
Também participaram do julgamento os desembargadores Monte Serrat e Carlos Russo.
A decisão foi unânime.
O recurso ficou assim ementado:
APELAÇÃO – RECURSO DA AUTORA – RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL – ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO A DIREITOS FUNDAMENTAIS POR PARTE DE PREPOSTO DO RÉU – PERSEGUIÇÃO E INTIMIDAÇÃO PRATICADOS NAS DEPENDÊNCIAS DO SHOPPING – ACUSAÇÃO INFUNDADA DE ATO ILÍCITO – AUTORA QUE FOI FORÇADA A ENTREGAR SEU CELULAR PARA O PREPOSTO DO RÉU – NARRATIVA CORROBORADA PELAS PROVAS PRODUZIDAS – AUSÊNCIA DE CONTRAPROVAS POR PARTE DO RÉU – ATO ILÍCITO DO PREPOSTO DEMONSTRADO – RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO SHOPPING – NEXO DE CAUSALIDADE – DANOS MORAIS CARACTERIZADOS – INDENIZAÇÃO DEVIDA – RECURSO DA AUTORA PROVIDO
Apelação nº 1046082-71.2020.8.26.0002